Chernobyl 25 Anos Revisitados – Capítulo 4 Desastre Pornô

Desastre Pornô em Pripyat

Room with a View in Pripyat – Jan Smith 2011

Stalker e Call of Duty em Pripyat e Chernobyl

Eu vi em primeira mão, e mais tarde ouvi o guia rindo sobre quantas pessoas efetivamente perguntam se há monstros e mutantes correndo livremente em Pripyat. Talvez seja devido à influência de jogos como Call of Duty e S.T.A.L.K.E.R. que têm como cenário a cidade de Pripyat e Chernobyl. Eu também notei que grande parte dos trabalhos visuais e imagens produzidas desde o acidente, estão manchados por tentarem fazer a evacuação e desolação da cidade parecerem o resultado de uma bomba atômica, e não um acidente nuclear. Em qualquer forma, radiação é invisível e letal, mas não explode janelas de vidro e destrói edifícios. Os pisos quebrados e paredes danificadas são principalmente cicatrizes de uma operação maciça de limpeza, mas não do acidente em sí ou da evacuação subseqüente.

A evacuação por sí, apesar de dolorosamente atrasada por comandantes soviéticos por 36 horas, foi um evento relativamente calmo. Mais de 800 ônibus, 300 carros e 2 trens foram enviados de Kiev. Através de auto-falantes e na rádio, residentes foram avisados que deveriam preparar apenas uma mala, pois estariam fora somente 3 dias. Mais de 30.000 pessoas foram evacuadas em 3 horas. Após alguns dias outras 100.000 foram evacuadas dos vilarejos e cidades próximas. (Você pode assistir a um vídeo sobre Pripyat antes e durante a evacuação aqui).

Máscaras de Gás como Adereços 

Gas Masks, Tim Suess

Exemplos comuns de imagens que representam uma face errônea da tragédia, são as diversas fotos online que mostram, literalmente, centenas de máscaras de gás.

Máscaras de gás são entulho ubíquo em vários edifícios, estão por todas as partes; no chão, nos cantos, sobre móveis velhos. Preciso esclarecer algo aqui: máscaras de gás não foram utilizadas durante o acidente nuclear! Máscaras têm efeito limitado na proteção contra radiação. Elas pertenciam à um estoque para a população caso houvesse um ataque químico ou biológico. Posteriormente, saqueadores entraram em Pripyat e os filtros de prata foram removidos de dentro das máscaras, para serem vendidos no mercado negro. Utilizar as máscaras como adereços para reforçar a tragédia é enganoso e faz uso do drama a custo da verdade. Outro exemplo é a re-acomodação de objetos para cenários fotográficos.

Example of Gas Mask Disaster Porn, Chernobyl

Televisões vazias e cadeiras são colocadas em poses dramáticas e lugares inusitados. Bonecas e sapatos são reposicionados como adereços macabros. Na sala de operações de um hospital  encontrei Band-Aids antigos e uma comadre sobre a mesa cirúrgica, obviamente sinais da tentativa de alguém criando um cenários dramático. As vezes estes cenários realizados se assemelham à desastres pornôs.

Pripyat Grafites

Algumas vezes a interferência é de bom gosto. Um grupo de artistas de rua realizou grafites em vários edifícios, possivelmente em 2005. Há versões conflitantes sobre a entrada destes artistas, não se sabe se entraram ilegalmente da Bielorússia ou se obtiveram permissão do governo ucraniano. Independentemente de como entraram, o fato em sí é levemente cômico ou agri-doce.

Estas intervenções me causaram desconforto, mas me ajudaram a manter o foco e desenvolver o primeiro eixo do meu trabalho. Antes do cair da noite eu queria criar um relato histórico da cidade e de sua arquitetura. Pripyat é um tanto quanto única entre as cidades ex-soviéticas, uma vez que ainda mostra muitos sinais externos do fato de ter sido soviética. Uma estátua do Lenin, ainda de pé, estrelas soviéticas formando placas de ruas e adornando edifícios; a cidade em sí foi construída para, quando vista do alto, parecer um martelo e foice. Outras cidades ex-soviéticas foram limpas destas insígnias. Pripyat era, comparativamente, afluente, e cobiçada por jovens casais e famílias. Por causa do trabalho nas usinas nucleares, os salários eram até 5 vezes mais altos do que a média soviética e a infra estrutura era nova e generosa. Havia 5 piscinas cobertas, diversas escolas, um centro cultural e de dança, e muitos restaurantes e cafés. Eu gostaria de restaurar parte da dignidade perdida à cidade, e através disto, mostrar os traços da elegância que aspirava.

No próximo capítulo explorarei a cidade em profundidade, mas por enquanto apresento alguns exemplos de como a cidade sofreu intervenções sem fim: máscaras de gás em pedestais, bolas de futebol e basquete colocadas delicadamente sobre pisos apodrecidos.

Português:  Capítulo 1 / Capítulo 2 / Capítulo 3 / Capítulo 4 / Capítulo 5 / Capítulo 6

English: Link Chapter One / Link Chapter Two / Link Chapter Three / Link Chapter Five / Link Chapter Six /

See Pripyat 25 Years Later:  Complete Gallery

COMPLETE GALLERY/GALERIA ONLINE: http://www.smithjan.com/pripyat.html

 

Gas Mask 1st Place, Jan Smith 2011
Basketball put next to Football, Jan Smith 2011
Carefully placed ball, Jan Smith 2011

Chernobyl, Revisitando 25 Anos – Capítulo 3 Jogos de Computador e Negação

Video Games e Pripyat

View of Pripyat from Watchtower – Jan Smith 2011

Jogos de Computador e Chernobyl

Na Ucrânia, eu fiquei surpreso em saber que nennhum dos organizados das excursões para a zona de exclusão, havia, na realidade, estado em Chernobyl. Talvez por causa dos custos altos relacionados com as visitas e o valor dos salários locais. A maioria das pessoas estava familiarizada, e mencionaram diversas vezes, “stalquer”. Demorou praticamente uma semana para eu entender que o que diziam era “S.T.A.L.K.E.R”, um jogo para computadores, criação e desenvolvimento russo, e bastante conhecido, que tem como cenário: Chernobyl e Pripyat. Gradualmente eu entendi que, apesar da maioria dos ucranianos ter sido afetada direta ou indiretamente na época do acidente, para a geração com menos de 30 anos, muito do que sabem sobre Chernobyl, é por associação. Jogos para computador, mídia internacional e interesse estrangeiro preenchem um espaço deixado pela falta de um sistema educacional ucraniano estabelecido, e gerações mais velhas que freqüentemente mantêm silêncio sobre o assunto.

Como país, Ucrânia tem somente 17 anos e uma grande parte da educação da população foi sob um sistema educacional soviético e não nacional. A questão do “barril de pólvora” de Chernobyl não foi explorada com profundidade pelo sistema soviético, exceto talvez pela preocupação pragmática com a segurança. Escolas realizavam simulações, como escolas no Ocidente realizam treinamentos de práticas e procedimentos em caso de incêndios. Achei irônico que pessoas podiam me dizer como responder/reagir a um acidente nuclear, mas não haviam visitado o terreno consagrado. Na Alemanha, visitas escolares aos Centros de Concentração são comuns, e no Japão eu vi muitos alunos no ground-zero, tanto em Hiroshima assim como em Nagasaki.

Chernobyl significa Absinto  

Para ucranianos acima de 30 anos, a dor e as cicatrizes mantêm comentários a um mínimo. “É muito doloroso e sofrido para querermos relembrar”, é o comentário de uma pessoa com a qual conversei. “Chernobyl significa absinto, e absinto é mencionado no Livro das Revelações com um sinal do Fim dos Dias. Somos pessoas supersticiosas e acreditamos que o desastre em Chernobyl foi previsto nas escrituras. É por isso que não queremos falar sobre o assunto”, disse uma senhora idosa que entrevistei. Este último comentário é algo que ouvi diversas vezes, de uma maneira ou de outra, inclusive no Museu Chernobyl em Kiev, onde uma voz gravada dizia:

“E o terceiro anjo tocou a trombeta, e caiu do céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas uma grande estrela, ardendo como tocha; O nome da estrela é Absinto: e a terça parte das águas se tornou em absinto; e muitos homens morreram por causa destas águas, porque se tornaram amargas”. (Revelação 8:10-11)

Legado de Radioatividade em Pripyat e Chernobyl

A explicação mais pragmática foi dada por um soldado que conheci. “A radioatividade de Chernobyl durará outros 80.000 anos. Isso quer dizer que o governo utiliza os impostos que pagamos para cuidar do solo contaminado que, ninguém vivo verá limpo. Qual estado durou tanto? Nem mesmo os egípcios. Porque deveríamos querer falar sobre algo que é dolorosamente tão longo e, provavelmente, falhará de ser salvo? Eu não quero meus impostos ajudando a pagar por algo que não foi nossa culpa. Deixe que os russos paguem?”

Notei que, quando menciono que estou trabalhando num projeto fotográfico em Chernobyl, muitas pessoas identificam com rapidez, sobre o que estou falando, e usualmente fazem uma piada sobre meu regresso e que terei um “brilho nuclear” e brilharei no escuro. Outras vezes, e eu “viro os olhos”: “É aquele lugar nuclear ou campo de concentração nazista?” me perguntou uma artista reconhecida quando soube sobre meu trabalho. O que eu esperava, é que pessoas não soubessem como é Chernobyl, ou mesmo que não soubessem o que aconteceu, ao final das contas, eu fui até lá justamente com o intuito de documentar o acontecido. Mas um segmento interessante de adolescentes e jovens adultos na faixa dos 20 anos conhece os detalhes da cidade de Pripyat. “Que demais, você foi para o lugar com a roda gigante? Impressionante!”, comentou um garoto mexicano de 12 anos, filho de um amigo no México.     

S.T.A.L.K.E.R Call of Pripyat, Screenshot

Eu tenho somente evidencias empíricas, mas no mundo ocidental o jogo de computador “Call of Duty” pode ser o responsável por isso. É um jogo extremamente popular e um dos episódios acontece em Pripyat e Chernobyl. A cena de encerramento é em frente a roda gigante. Navegando pela internet e blogs relacionados ao jogo, encontrei comentários como: “Os desenhos gráficos são tão bons, eu sinto como se já tivesse estado lá”. Sério? Como se você tivesse estado lá? O pior desastre nuclear da história e você está ligado à aqueles que o sofreram através de um jogo de computador? Dá um tempo! …mas ao menos eles SABEM algo sobre o lugar, e isso é importante.

Seria fácil criticar esta familiaridade provinciana como um sub-produto singular ao conforto ocidental, mas muitos jovens ucranianos, pelos menos aparentam estar igualmente indiferentes à tragédia. Poderia ser um comportamento adaptado coletivo, desenvolvido através de séculos de penúria, guerra e ocupações,  induzidas por estrangeiros. A magnitude da questão é reconhecida, e geralmente conhece-se famílias que foram diretamente afetadas, ou pelo acidente ou por doenças causadas pela exposição à radiação… mas parece que se conectam através de uma névoa, ou quase que literalmente através do proxy de um personagem solitário dentro de um jogo de computador, que caça artefatos e atira em mutantes. “Eu tenho que confessar que nunca quis ir para Pripyat, mas S.T.A.L.K.E.R, realmente é divertido”, comentou uma jovem jornalista com a qual falei.

Português:  Capítulo 1 / Capítulo 2 / Capítulo 3 / Capítulo 4 / Capítulo 5 / Capítulo 6

English: Link Chapter One / Link Chapter Two / Link Chapter Four Link Chapter Five / Link Chapter Six /

See Pripyat 25 Years Later:  Complete Gallery

COMPLETE GALLERY/GALERIA ONLINE: http://www.smithjan.com/pripyat.html

 

Chernobyl, Revisitando 25 Anos – Capítulo 2 Acidentes Acontecem

Como ocorreu o Acidente em Chernobyl

Até viajar para Chernobyl, eu nunca havia me perguntado sobre a causa do acidente. Imaginei um extremo mal funcionamento de algum componente e lembrava de piadas ruins, como, “Para quê serve este botão?”. Infelizmente, a piada é o mais próximo à verdade. Um artigo escrito por Boris Gorbachev em 2003, revendo as causas do acidente, menciona um gerente da planta do reator descrevendo a falta de cuidado entre os funcionários:

“Imagine – era possível ver o operador sentado no painel de contrôle. Aquele com os botões…

– Como assim?…

 – Assim mesmo, ele simplesmente sentou. Sentou em cima do painel. Não estou brincando”.

O real culpado é o incrível acúmulo de negligência e arrogância. Os diretores da planta eram nomeados políticos, sem experiência em energia nuclear. Disciplina era praticamente inexistente entre os funcionários; precedendo o acidente existiram vários relatórios sobre membros da equipe de funcionários embriagados ou “cabulando” expediente. Projetos da construção do reator, apresentavam características redundantes e falta de aspectos importantes de segurança. Onde os planos de construção estavam corretos, foram utilizados materiais errados por negligência ou por trapaças.

O acidente ocorreu durante um experimento programado para testar uma potencial dispositivo de segurança para situações de emergência, do núcleo do reator. Simplificando, o experimento basicamente consistiu em checar o que aconteceria se toda a energia principal fosse perdida, e o sistema de emergência também deixado sem energia. O sistema de resfriamento do reator estaria desligado e o núcleo começaria a aquecer perigosamente, mas em teoria, o “momentum” das turbinas do reator produziriam energia suficiente, devido à inércia, para alimentar o sistema morto/desligado de resfriamento. Seria o equivalente a desligar o respirador artificial de um paciente, e se perguntar quanto tempo o mesmo conseguiria segurar a respiração antes de ligar o respirador a uma bateria. O resultado foi que o núcleo do reator aqueceu rapidamente, e eventualmente o botão errado realmente foi acionado.

À 01:23:40 hora da manhã, do dia 25 de Abril de 1986, horário registrado no sistema central, o botão EPS-5 (também conhecido como AZ-5) foi acionado, e o desligamento de emergência do reator inicializado. O motivo pelo qual o botão foi acionado é desconhecido, mas independentemente do motivo, uma vez acionado, as hastes de controle foram inseridas no núcleo do reator. Na teoria, as hastes neutralizariam as reações nucleares dentro do núcleo, e diminuirião as temperaturas. O ambiente ao redor das hastes no momento de sua inserção já estava tão quente, que as pontas derreteram ao entrarem no núcleo, obstruindo a passagem e impedindo a completa inserção. Neste momento, todas as esperanças foram perdidas.

Se o sistema de resfriamento de emergência tivesse sido acionado antes, a temperatura do núcleo talvez esfriasse o suficiente para possibilitar a inserção completa das hastes.  Sem a inserção da hastes, a reação nuclear aumentou, as temperaturas continuaram a subir e momentos depois, uma explosão de vapor destruiu o teto do Reator No 4. Segundos depois, outra explosão (tecnicamente uma excursão nuclear) projetou elementos radioativos para o céu.

Bombeiros heróis de Chernobyl

A resposta daqueles de plantão, foi heróica. Muitos da equipe deram suas vidas nas tentativas de desligar o reator, conscientes dos riscos da radiação. Pouco após a explosão, bombeiros chegaram ao local para tentar extinguir o fogo. Seus esforços provavelmente evitaram outras explosões, que causariam mais liberação de material radioativo na atmosfera. No período de 3 semanas após a explosão, a maioria deles morreria em UTIs em Moscou.

Grigorii Khmel: “Nós chegamos lá 10 ou 15 minutes antes das 2 horas da manhã… Vimos grafite espalhado. Misha perguntou: “O que é grafite?” Eu chutei os pedaços para longe, mas um dos bombeiros do outro caminhão, apanhou um pedaço. “Está quente”, ele disse. Os pedaços de grafite eram de tamanhos diferentes, alguns grandes, outros pequenos o suficiente para serem apanhados do chão… Nós não sabíamos muito sobre radiação. Mesmo aqueles que trabalhavam lá, não tinham muita idéia. Não havia mais água nos caminhões. Misha encheu a cisterna e apontamos a água para o topo. Foi então que aqueles rapazes que morreram, subiram no telhado – Vashcjik Kolya e outros, e Volodya Pravik… Eles subiram a escada… e eu nunca mais os vi”.

Anatoli Zakharov: “Me lembro de brincar com os outros, dizendo: ‘Deve haver uma quantidade incrível de radiação aqui. Teremos sorte se ainda estivermos vivos de manhã’. Claro que sabíamos! Se tivéssemos seguido regulamentações, nunca teríamos chegado perto do reator. Mas era uma obrigação moral – nosso dever. Éramos como Kamikazes”.

Eu visitei os túmulos das 28 primeiras vítimas de Chernobyl, os bombeiros e técnicos que lutaram para controlar o fogo e a oclusão do reator. Quando cheguei no Cemitério Mitino em Moscow, onde estão enterrados, já eram 2 horas da tarde, e começava a escurecer. Havia nevado muito e todas as sepulturas estavam cobertas de gelo e neve. Eu quebrei os “casulos” de gelo e descobri flores sob a neve. Cada lápide revelou um rosto em metal fundido, me encarando friamente.

Chernobyl Memorial, Mitino Cemetery Moscow, Jan Smith 2011

Português:  Capítulo 1 / Capítulo 2 / Capítulo 3 / Capítulo 4 / Capítulo 5 / Capítulo 6

English: Link to Chapter 1 / Link to Chapter 3 / Link to Chapter 4 / Link to Chapter 5 /Link to Chapter 6

See Pripyat 25 Years Later:  Complete Gallery

COMPLETE GALLERY/GALERIA ONLINE: http://www.smithjan.com/pripyat.html

 

Chernobyl, Revisitando 25 Anos – Capítulo 1 Corrigindo Equívocos

Chernobyl Após 25 Anos

“Quando fui convidado para trabalhar na Zona de Exclusão, as primeiras palavras que vieram a minha mente foram: Chernobyl, radiação, mutações e câncer”. Max, relatando sobre sua chegada para trabalhar em Chernobyl.

Quando mencionei que embarcaria para documentar Chernobyl 25 anos apos o acidente, vi que estas palavras são associações comuns feitas por diferentes pessoas. Neste sentido há alguns equívocos sobre Chernobyl que valem a pena serem corrigidos.

Níveis de Radiação em Chernobyl

O primeiro ponto a ser esclarecido, é que, níveis de radiação na maior parte da Zona de Exclusão estão dentro dos limites toleráveis para exposição humana controlada. Em alguns lugares, o nível da radiação em segundo plano, é menos da metade do que a radiação natural constante na maior parte do mundo. A média mundial de dose de radiação em segundo plano é de aproximadamente 2.4 millisievert (mSv) por ano. A maioria dos lugares na Zona, oscila entre 4 e 10 vezes os níveis apresentados em segundo plano mundialmente. Estes níveis estão dentro dos limites toleráveis. Como comparação, a exposição radioativa dentro de um avião a jato, é pelo menos, 10 vezes mais alta que a radiação natural de segundo plano em Ramsar, Índia, onde a dose anual apresentada é de 260mSv. Há exceções notáveis na Zona, onde a dose é milhares de vezes mais alta do que o nível seguro para exposição; por exemplo na “Floresta Vermelha”, algumas das estruturas de metal expostas em Pripyat, e porções do hospital onde as primeiras vítimas de SAR (Síndrome Aguda da Radiação) foram tratadas durante os dias imediatamente pós acidente. Embora a Zona seja geralmente segura para visitas, ingerir animais selvagens e plantas desta área, não é aconselhável. No entanto, a natureza regenerou ferozmente a área; há javalis, lobos, coelhos, pássaros e veados em diversas quantidades e vê-los andar sem medo dos homens é comum.

Visitando Chernobyl

O segundo equívoco é dizer que Chernobyl não é habitada. Em 2011 havia, aproximadamente, 3.000 funcionários do governo morando na cidade, usualmente com expedientes de 2 semanas na Zona e 2 semanas fora dela. O acidente afetou somente a operação nuclear do Reator No 4, os outros reatores continuaram as operações após e durante as conseqüências do acidente, bem como até o começo deste século. O funcionamento dos demais reatores foi necessário para alimentar a carência de energia da Ucrânia e Bielorússia, até o momento em que fontes alternativas de geração de energia pudessem ser criadas para atender a demanda. Há também um tráfego considerável de visitantes, que variam de fotógrafos e cientistas à curiosos turistas. Em 2010, 15.000 visitantes registrados entraram na Zona, a maior parte destes como turistas para visitas e “passeios de meio período”.

Pripyat não É Chernobyl

Talvez o equívoco mais popular se refere a quais cidades foram mais afetadas pelo acidente. O nome do local onde o reator explodiu e da cidade, é Chernobyl, mas a agitada e movimentada cidade de Pripyat, com 50.000 habitantes, foi mais afetada pelo acidente. Seus residentes foram evacuados nos três primeiros dias após o acidente, e a cidade é agora uma cidade fantasma e uma testemunha esmorecida da arquitetura e do design Soviéticos. Os habitantes de Pripyat e dos vilarejos adjacentes, foram os mais afetados pelos efeitos da exposição à radiação, e é entre eles, em particular nas crianças da época, que ocorreu a maior incidência de câncer, malformações e mal-estares generalizados.

Há muito o que investigar dentro das circunstâncias que levaram ao acidente, e obviamente a tragédia humana decorrente do mesmo. De todo o sofrimento, o que mais me marcou foi o comprometimento altruísta dos técnicos e bombeiros que, primeiramente, responderam à explosão original e tentaram extinguir o fogo. Provavelmente, graças a estes – os 28 primeiros a falecer por consequência das SAR, uma explosão adicional foi evitada. Provavelmente, teria sido uma explosão tão grande, que com reações em cadeia em todos os reatores de Chernobyl, transformaria a maior parte da Europa num deserto pelos próximos 80.000 anos. Quantos destes nomes conhecemos?

Eles sofreram uma morte dolorida. A radiação causa a separação da musculatura dos ossos, como se estivessem sendo cozidos. Suportaram interrogações pela KGB enquanto morriam. Foram enterrados no cemitério de Mitino, parte noroeste de Moscow, dentro de caixões de chumbo para isolar os restos mortais radioativos.

Foi com estes pensamentos que fui a Chernobyl. Eu não sabia o que esperar, ou realmente, como desenvolver meu próximo trabalho. No dia 10 de Janeiro de 2011, o governo ucraniano abriu Chernobyl ao turismo. Durante a noite de celebração do Natal ortodoxo, de 6 para 7 de Janeiro, eu era o único visitante em Chernobyl e tive o, nada glorioso, privilegio de ser o último “visitante” e ser o primeiro “turista”, ambos nos 25 anos desde o acidente.

O que segue é o primeiro capítulo de vários, que documentam o tempo que passei em Chernobyl, e mais especificamente em Pripyat. Espero resgatar parte da dignidade originalmente mantida nesta cidade. Não desejo expor a dor da tragédia em suas expressões mais notáveis. Ao contrário, quero apresentar um documentário visual e testemunho compreensivo do que a cidade uma vez foi – um ícone de um antigo império e o lar de milhares de histórias pessoais e discretas que foram perdidas.

A primeira série de fotografias são somente imagens instantâneas que narram minha chegada em Chernobyl. Posts adicionais irão explorar a cidade e as histórias que encontrei.

Português:  Capítulo 1 / Capítulo 2 / Capítulo 3 / Capítulo 4 / Capítulo 5 / Capítulo 6

Link to Chapter 2 /  Link to Chapter 3 / Link to Chapter 4 / Link to Chapter 5 / Link to Chapter 6/

Link to See Pripyat 25 Years Later:  Complete Gallery

COMPLETE GALLERY/GALERIA ONLINE: http://www.smithjan.com/pripyat.html

Entrance to Chernobyl, Jan Smith 2011
Former Cafe Chernobyl, Jan Smith 2011
Chernobyl Sheraton, Jan Smith 2011
Accomodations, Chernobyl, Jan Smith 2011
Chernobyl Canteen Christmas, Jan Smith 2011
Monument to the Slain Firemen, Chernobyl, Jan Smith 2011
The First 28 Dead, Chernobyl Museum, Kiev, Jan Smith 2011
Reactor #4 Chernobyl, Jan Smith 2011

Fukushima Daiichi is Not Chernobyl — But Both are Disasters

Fukushima Daiichi is Not Chernobyl – But Both are Disasters

Chernobyl Reactor, Pripyat 2011, Jan Smith 2011


Fukushima and Chernobyl Differences

It is unfair to compare the size of disasters because lives are affected and destroyed.  Nonetheless, the situation at Fukushima Daiichi, although very serious, should not be equated at the same level as Chernobyl.*  There is much reason for serious concern, but not for panic, particularly on the West Coast of the USA.  Continue reading “Fukushima Daiichi is Not Chernobyl — But Both are Disasters”