Chernobyl, Revisitando 25 Anos – Capítulo 2 Acidentes Acontecem

Como ocorreu o Acidente em Chernobyl

Até viajar para Chernobyl, eu nunca havia me perguntado sobre a causa do acidente. Imaginei um extremo mal funcionamento de algum componente e lembrava de piadas ruins, como, “Para quê serve este botão?”. Infelizmente, a piada é o mais próximo à verdade. Um artigo escrito por Boris Gorbachev em 2003, revendo as causas do acidente, menciona um gerente da planta do reator descrevendo a falta de cuidado entre os funcionários:

“Imagine – era possível ver o operador sentado no painel de contrôle. Aquele com os botões…

– Como assim?…

 – Assim mesmo, ele simplesmente sentou. Sentou em cima do painel. Não estou brincando”.

O real culpado é o incrível acúmulo de negligência e arrogância. Os diretores da planta eram nomeados políticos, sem experiência em energia nuclear. Disciplina era praticamente inexistente entre os funcionários; precedendo o acidente existiram vários relatórios sobre membros da equipe de funcionários embriagados ou “cabulando” expediente. Projetos da construção do reator, apresentavam características redundantes e falta de aspectos importantes de segurança. Onde os planos de construção estavam corretos, foram utilizados materiais errados por negligência ou por trapaças.

O acidente ocorreu durante um experimento programado para testar uma potencial dispositivo de segurança para situações de emergência, do núcleo do reator. Simplificando, o experimento basicamente consistiu em checar o que aconteceria se toda a energia principal fosse perdida, e o sistema de emergência também deixado sem energia. O sistema de resfriamento do reator estaria desligado e o núcleo começaria a aquecer perigosamente, mas em teoria, o “momentum” das turbinas do reator produziriam energia suficiente, devido à inércia, para alimentar o sistema morto/desligado de resfriamento. Seria o equivalente a desligar o respirador artificial de um paciente, e se perguntar quanto tempo o mesmo conseguiria segurar a respiração antes de ligar o respirador a uma bateria. O resultado foi que o núcleo do reator aqueceu rapidamente, e eventualmente o botão errado realmente foi acionado.

À 01:23:40 hora da manhã, do dia 25 de Abril de 1986, horário registrado no sistema central, o botão EPS-5 (também conhecido como AZ-5) foi acionado, e o desligamento de emergência do reator inicializado. O motivo pelo qual o botão foi acionado é desconhecido, mas independentemente do motivo, uma vez acionado, as hastes de controle foram inseridas no núcleo do reator. Na teoria, as hastes neutralizariam as reações nucleares dentro do núcleo, e diminuirião as temperaturas. O ambiente ao redor das hastes no momento de sua inserção já estava tão quente, que as pontas derreteram ao entrarem no núcleo, obstruindo a passagem e impedindo a completa inserção. Neste momento, todas as esperanças foram perdidas.

Se o sistema de resfriamento de emergência tivesse sido acionado antes, a temperatura do núcleo talvez esfriasse o suficiente para possibilitar a inserção completa das hastes.  Sem a inserção da hastes, a reação nuclear aumentou, as temperaturas continuaram a subir e momentos depois, uma explosão de vapor destruiu o teto do Reator No 4. Segundos depois, outra explosão (tecnicamente uma excursão nuclear) projetou elementos radioativos para o céu.

Bombeiros heróis de Chernobyl

A resposta daqueles de plantão, foi heróica. Muitos da equipe deram suas vidas nas tentativas de desligar o reator, conscientes dos riscos da radiação. Pouco após a explosão, bombeiros chegaram ao local para tentar extinguir o fogo. Seus esforços provavelmente evitaram outras explosões, que causariam mais liberação de material radioativo na atmosfera. No período de 3 semanas após a explosão, a maioria deles morreria em UTIs em Moscou.

Grigorii Khmel: “Nós chegamos lá 10 ou 15 minutes antes das 2 horas da manhã… Vimos grafite espalhado. Misha perguntou: “O que é grafite?” Eu chutei os pedaços para longe, mas um dos bombeiros do outro caminhão, apanhou um pedaço. “Está quente”, ele disse. Os pedaços de grafite eram de tamanhos diferentes, alguns grandes, outros pequenos o suficiente para serem apanhados do chão… Nós não sabíamos muito sobre radiação. Mesmo aqueles que trabalhavam lá, não tinham muita idéia. Não havia mais água nos caminhões. Misha encheu a cisterna e apontamos a água para o topo. Foi então que aqueles rapazes que morreram, subiram no telhado – Vashcjik Kolya e outros, e Volodya Pravik… Eles subiram a escada… e eu nunca mais os vi”.

Anatoli Zakharov: “Me lembro de brincar com os outros, dizendo: ‘Deve haver uma quantidade incrível de radiação aqui. Teremos sorte se ainda estivermos vivos de manhã’. Claro que sabíamos! Se tivéssemos seguido regulamentações, nunca teríamos chegado perto do reator. Mas era uma obrigação moral – nosso dever. Éramos como Kamikazes”.

Eu visitei os túmulos das 28 primeiras vítimas de Chernobyl, os bombeiros e técnicos que lutaram para controlar o fogo e a oclusão do reator. Quando cheguei no Cemitério Mitino em Moscow, onde estão enterrados, já eram 2 horas da tarde, e começava a escurecer. Havia nevado muito e todas as sepulturas estavam cobertas de gelo e neve. Eu quebrei os “casulos” de gelo e descobri flores sob a neve. Cada lápide revelou um rosto em metal fundido, me encarando friamente.

Chernobyl Memorial, Mitino Cemetery Moscow, Jan Smith 2011

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