Chernobyl, Revisitando 25 Anos – Capítulo 3 Jogos de Computador e Negação

Video Games e Pripyat

View of Pripyat from Watchtower – Jan Smith 2011

Jogos de Computador e Chernobyl

Na Ucrânia, eu fiquei surpreso em saber que nennhum dos organizados das excursões para a zona de exclusão, havia, na realidade, estado em Chernobyl. Talvez por causa dos custos altos relacionados com as visitas e o valor dos salários locais. A maioria das pessoas estava familiarizada, e mencionaram diversas vezes, “stalquer”. Demorou praticamente uma semana para eu entender que o que diziam era “S.T.A.L.K.E.R”, um jogo para computadores, criação e desenvolvimento russo, e bastante conhecido, que tem como cenário: Chernobyl e Pripyat. Gradualmente eu entendi que, apesar da maioria dos ucranianos ter sido afetada direta ou indiretamente na época do acidente, para a geração com menos de 30 anos, muito do que sabem sobre Chernobyl, é por associação. Jogos para computador, mídia internacional e interesse estrangeiro preenchem um espaço deixado pela falta de um sistema educacional ucraniano estabelecido, e gerações mais velhas que freqüentemente mantêm silêncio sobre o assunto.

Como país, Ucrânia tem somente 17 anos e uma grande parte da educação da população foi sob um sistema educacional soviético e não nacional. A questão do “barril de pólvora” de Chernobyl não foi explorada com profundidade pelo sistema soviético, exceto talvez pela preocupação pragmática com a segurança. Escolas realizavam simulações, como escolas no Ocidente realizam treinamentos de práticas e procedimentos em caso de incêndios. Achei irônico que pessoas podiam me dizer como responder/reagir a um acidente nuclear, mas não haviam visitado o terreno consagrado. Na Alemanha, visitas escolares aos Centros de Concentração são comuns, e no Japão eu vi muitos alunos no ground-zero, tanto em Hiroshima assim como em Nagasaki.

Chernobyl significa Absinto  

Para ucranianos acima de 30 anos, a dor e as cicatrizes mantêm comentários a um mínimo. “É muito doloroso e sofrido para querermos relembrar”, é o comentário de uma pessoa com a qual conversei. “Chernobyl significa absinto, e absinto é mencionado no Livro das Revelações com um sinal do Fim dos Dias. Somos pessoas supersticiosas e acreditamos que o desastre em Chernobyl foi previsto nas escrituras. É por isso que não queremos falar sobre o assunto”, disse uma senhora idosa que entrevistei. Este último comentário é algo que ouvi diversas vezes, de uma maneira ou de outra, inclusive no Museu Chernobyl em Kiev, onde uma voz gravada dizia:

“E o terceiro anjo tocou a trombeta, e caiu do céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas uma grande estrela, ardendo como tocha; O nome da estrela é Absinto: e a terça parte das águas se tornou em absinto; e muitos homens morreram por causa destas águas, porque se tornaram amargas”. (Revelação 8:10-11)

Legado de Radioatividade em Pripyat e Chernobyl

A explicação mais pragmática foi dada por um soldado que conheci. “A radioatividade de Chernobyl durará outros 80.000 anos. Isso quer dizer que o governo utiliza os impostos que pagamos para cuidar do solo contaminado que, ninguém vivo verá limpo. Qual estado durou tanto? Nem mesmo os egípcios. Porque deveríamos querer falar sobre algo que é dolorosamente tão longo e, provavelmente, falhará de ser salvo? Eu não quero meus impostos ajudando a pagar por algo que não foi nossa culpa. Deixe que os russos paguem?”

Notei que, quando menciono que estou trabalhando num projeto fotográfico em Chernobyl, muitas pessoas identificam com rapidez, sobre o que estou falando, e usualmente fazem uma piada sobre meu regresso e que terei um “brilho nuclear” e brilharei no escuro. Outras vezes, e eu “viro os olhos”: “É aquele lugar nuclear ou campo de concentração nazista?” me perguntou uma artista reconhecida quando soube sobre meu trabalho. O que eu esperava, é que pessoas não soubessem como é Chernobyl, ou mesmo que não soubessem o que aconteceu, ao final das contas, eu fui até lá justamente com o intuito de documentar o acontecido. Mas um segmento interessante de adolescentes e jovens adultos na faixa dos 20 anos conhece os detalhes da cidade de Pripyat. “Que demais, você foi para o lugar com a roda gigante? Impressionante!”, comentou um garoto mexicano de 12 anos, filho de um amigo no México.     

S.T.A.L.K.E.R Call of Pripyat, Screenshot

Eu tenho somente evidencias empíricas, mas no mundo ocidental o jogo de computador “Call of Duty” pode ser o responsável por isso. É um jogo extremamente popular e um dos episódios acontece em Pripyat e Chernobyl. A cena de encerramento é em frente a roda gigante. Navegando pela internet e blogs relacionados ao jogo, encontrei comentários como: “Os desenhos gráficos são tão bons, eu sinto como se já tivesse estado lá”. Sério? Como se você tivesse estado lá? O pior desastre nuclear da história e você está ligado à aqueles que o sofreram através de um jogo de computador? Dá um tempo! …mas ao menos eles SABEM algo sobre o lugar, e isso é importante.

Seria fácil criticar esta familiaridade provinciana como um sub-produto singular ao conforto ocidental, mas muitos jovens ucranianos, pelos menos aparentam estar igualmente indiferentes à tragédia. Poderia ser um comportamento adaptado coletivo, desenvolvido através de séculos de penúria, guerra e ocupações,  induzidas por estrangeiros. A magnitude da questão é reconhecida, e geralmente conhece-se famílias que foram diretamente afetadas, ou pelo acidente ou por doenças causadas pela exposição à radiação… mas parece que se conectam através de uma névoa, ou quase que literalmente através do proxy de um personagem solitário dentro de um jogo de computador, que caça artefatos e atira em mutantes. “Eu tenho que confessar que nunca quis ir para Pripyat, mas S.T.A.L.K.E.R, realmente é divertido”, comentou uma jovem jornalista com a qual falei.

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