Chernobyl Após 25 Anos
“Quando fui convidado para trabalhar na Zona de Exclusão, as primeiras palavras que vieram a minha mente foram: Chernobyl, radiação, mutações e câncer”. Max, relatando sobre sua chegada para trabalhar em Chernobyl.
Quando mencionei que embarcaria para documentar Chernobyl 25 anos apos o acidente, vi que estas palavras são associações comuns feitas por diferentes pessoas. Neste sentido há alguns equívocos sobre Chernobyl que valem a pena serem corrigidos.
Níveis de Radiação em Chernobyl
O primeiro ponto a ser esclarecido, é que, níveis de radiação na maior parte da Zona de Exclusão estão dentro dos limites toleráveis para exposição humana controlada. Em alguns lugares, o nível da radiação em segundo plano, é menos da metade do que a radiação natural constante na maior parte do mundo. A média mundial de dose de radiação em segundo plano é de aproximadamente 2.4 millisievert (mSv) por ano. A maioria dos lugares na Zona, oscila entre 4 e 10 vezes os níveis apresentados em segundo plano mundialmente. Estes níveis estão dentro dos limites toleráveis. Como comparação, a exposição radioativa dentro de um avião a jato, é pelo menos, 10 vezes mais alta que a radiação natural de segundo plano em Ramsar, Índia, onde a dose anual apresentada é de 260mSv. Há exceções notáveis na Zona, onde a dose é milhares de vezes mais alta do que o nível seguro para exposição; por exemplo na “Floresta Vermelha”, algumas das estruturas de metal expostas em Pripyat, e porções do hospital onde as primeiras vítimas de SAR (Síndrome Aguda da Radiação) foram tratadas durante os dias imediatamente pós acidente. Embora a Zona seja geralmente segura para visitas, ingerir animais selvagens e plantas desta área, não é aconselhável. No entanto, a natureza regenerou ferozmente a área; há javalis, lobos, coelhos, pássaros e veados em diversas quantidades e vê-los andar sem medo dos homens é comum.
Visitando Chernobyl
O segundo equívoco é dizer que Chernobyl não é habitada. Em 2011 havia, aproximadamente, 3.000 funcionários do governo morando na cidade, usualmente com expedientes de 2 semanas na Zona e 2 semanas fora dela. O acidente afetou somente a operação nuclear do Reator No 4, os outros reatores continuaram as operações após e durante as conseqüências do acidente, bem como até o começo deste século. O funcionamento dos demais reatores foi necessário para alimentar a carência de energia da Ucrânia e Bielorússia, até o momento em que fontes alternativas de geração de energia pudessem ser criadas para atender a demanda. Há também um tráfego considerável de visitantes, que variam de fotógrafos e cientistas à curiosos turistas. Em 2010, 15.000 visitantes registrados entraram na Zona, a maior parte destes como turistas para visitas e “passeios de meio período”.
Pripyat não É Chernobyl
Talvez o equívoco mais popular se refere a quais cidades foram mais afetadas pelo acidente. O nome do local onde o reator explodiu e da cidade, é Chernobyl, mas a agitada e movimentada cidade de Pripyat, com 50.000 habitantes, foi mais afetada pelo acidente. Seus residentes foram evacuados nos três primeiros dias após o acidente, e a cidade é agora uma cidade fantasma e uma testemunha esmorecida da arquitetura e do design Soviéticos. Os habitantes de Pripyat e dos vilarejos adjacentes, foram os mais afetados pelos efeitos da exposição à radiação, e é entre eles, em particular nas crianças da época, que ocorreu a maior incidência de câncer, malformações e mal-estares generalizados.
Há muito o que investigar dentro das circunstâncias que levaram ao acidente, e obviamente a tragédia humana decorrente do mesmo. De todo o sofrimento, o que mais me marcou foi o comprometimento altruísta dos técnicos e bombeiros que, primeiramente, responderam à explosão original e tentaram extinguir o fogo. Provavelmente, graças a estes – os 28 primeiros a falecer por consequência das SAR, uma explosão adicional foi evitada. Provavelmente, teria sido uma explosão tão grande, que com reações em cadeia em todos os reatores de Chernobyl, transformaria a maior parte da Europa num deserto pelos próximos 80.000 anos. Quantos destes nomes conhecemos?
Eles sofreram uma morte dolorida. A radiação causa a separação da musculatura dos ossos, como se estivessem sendo cozidos. Suportaram interrogações pela KGB enquanto morriam. Foram enterrados no cemitério de Mitino, parte noroeste de Moscow, dentro de caixões de chumbo para isolar os restos mortais radioativos.
Foi com estes pensamentos que fui a Chernobyl. Eu não sabia o que esperar, ou realmente, como desenvolver meu próximo trabalho. No dia 10 de Janeiro de 2011, o governo ucraniano abriu Chernobyl ao turismo. Durante a noite de celebração do Natal ortodoxo, de 6 para 7 de Janeiro, eu era o único visitante em Chernobyl e tive o, nada glorioso, privilegio de ser o último “visitante” e ser o primeiro “turista”, ambos nos 25 anos desde o acidente.
O que segue é o primeiro capítulo de vários, que documentam o tempo que passei em Chernobyl, e mais especificamente em Pripyat. Espero resgatar parte da dignidade originalmente mantida nesta cidade. Não desejo expor a dor da tragédia em suas expressões mais notáveis. Ao contrário, quero apresentar um documentário visual e testemunho compreensivo do que a cidade uma vez foi – um ícone de um antigo império e o lar de milhares de histórias pessoais e discretas que foram perdidas.
A primeira série de fotografias são somente imagens instantâneas que narram minha chegada em Chernobyl. Posts adicionais irão explorar a cidade e as histórias que encontrei.
Português: Capítulo 1 / Capítulo 2 / Capítulo 3 / Capítulo 4 / Capítulo 5 / Capítulo 6
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Link to See Pripyat 25 Years Later: Complete Gallery
COMPLETE GALLERY/GALERIA ONLINE: http://www.smithjan.com/pripyat.html