O jornalista Gustavo Fioratti, me fez entrevista e escreve sobre meu trabalho na Folha de São Paulo. “Perda, morte e a documentação de uma denúncia ambiental emergem de cada um dos retratos do Jan.”
Pode ler a resenha original na Folha de São Paulo, o conferir depois de pulo de página.
Mexicano Fotografa Areas Abandonadas
GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Fotografar lugares abandonados -portos, complexos industriais, cidades inteiras- é uma forma de retratar, impalpável, o silêncio.
“Em geral, buscam esse sentido em imagens da natureza. Mas, no meio dos destroços, também senti uma forte sensação de paz”, diz o fotógrafo mexicano Jan Smith.
Na exposição “Tours de Césio”, na galeria Eduardo Fernandes, ele exibe imagens que resultaram de duas visitas: uma a Pripyat, cidade ucraniana evacuada em 1986 por conta do acidente nuclear da usina de Chernobyl, e a outra aos vilarejos dos arredores da usina de Fukushima, no Japão, também esvaziados, após o vazamento de radiação provocado pelos terremotos de 2011.
Paz, portanto, não é o único foco do trabalho. Perda, morte e a documentação de uma denúncia ambiental emergem de cada um dos retratos. Entre as imagens, aparece a carcaça de um cachorro em Pripyat, dos inúmeros bichos de estimação que foram abandonados na correria da evacuação.
O animal foi deixado no 21º andar de um edifício que Smith explorou durante suas andanças pelo perímetro que permanecerá interditado, provavelmente, por mais 300 anos. “As janelas foram quebradas para que a radiação não ficasse concentrada nos prédios. As portas dos apartamentos, todas abertas. É um cenário de guerra”, diz.
Para o fotógrafo, a visita aos vilarejos da província de Fukushima imprimem ainda uma forte sensação da presença humana. “Parece que alguém vai sair de um daqueles prédios a qualquer momento”, diz. “Alguns semáforos, por exemplo, ainda estão funcionando”, descreve.
Smith fotografa lugares abandonados desde 2006. Em um de seus últimos trabalhos, ele retratou uma baía na costa de Mauritânia ocupada ainda hoje por um cemitério de barcos. São centenas deles, abandonados por uma indústria pesqueira.
O tema é recorrente entre fotógrafos. Em 2011, por exemplo, o mineiro Pedro David venceu o prêmio Pierre Verger, organizado pelo governo da Bahia, ao retratar estradas, galpões e outros lixos imobiliários, abandonados na periferia de Belo Horizonte.